Perdendo Tempo
- Mateus Santos
- 3 de abr. de 2021
- 3 min de leitura

Já percebeu como vivemos basicamente impulsionados pelo remorso? Se eu tivesse que sintetizar atitudes gerais de boa parte da minha vida, eu poderia facilmente apontar para o remorso como principal motivador de todas. Seja tentando antecipar esse sentimento ou agindo depois que ele me atingiu. Grandes poetas já falaram sobre isso, porque é uma das aflições mais comuns – se não for a mais – de toda a humanidade. Mario Quintana falou certa vez sobre isso de forma muito bonita: “Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer”. E isso me faz pensar: quantas noites nós vamos para a cama e perdemos a chance de fazer algo que estava ao nosso alcance e que pode ter sido nossa última oportunidade?
Alguns meses atrás, perdi uma pessoa muito importante na minha vida. Desde então, várias vezes visitei o túmulo dela e sempre me pego pensando no que mais eu poderia ter feito. Claro, sempre vai haver algo a mais a ser feito, especialmente coisas relativamente pequenas: um abraço, um beijo, um “eu te amo”, uma conversa que eu poderia ter prestado mais atenção, uma risada que eu queria ter aproveitado mais. Graças a Deus, o sentimento em relação a essa pessoa é de que aproveitei ao máximo. Essa morte fez eu ver a vida de outra forma e eu sei que isso parece um clichê, porque provavelmente é: você começa a ser impulsionado pelo remorso e faz de tudo para antecipar isso e nunca deixar que esse sentimento chegue.
Pouco tempo depois de tudo isso, perdi uma outra pessoa, que foi assassinada. E, dessa vez, o remorso chegou de outra forma, abrupto, brusco e voraz! Havia tanto que eu não tinha dito… tantas piadas dele que eu ignorei, tanta bondade no seu coração que eu deixei de admirar, tanto carinho escondido em pequenos cascos na cabeça, tanto amor que eu deixei de acolher. Em menos de seis meses, experimentei os dois tipos de remorsos: o positivo, em que você agradece por ter feito tudo o que estava ao seu alcance; e o negativo, em que você não consegue dormir, as lembranças te corroem, o arrependimento te destrói e aquela sensação de que eu poderia ter feito mais parece nunca ir embora.
Perder alguém que eu amava foi a pior dor que eu experimentei na minha vida, mas talvez a segunda maior seja perceber que você não aproveitou aquele alguém o suficiente. São estas coisas que nos moldam: não as que podemos mudar, mas as que não podemos.
Então o que nós estamos fazendo? Sério, pare e pense um pouco. O que você fez nesse ano? Como você tratou as pessoas ao seu redor? Como você tratou aquela pessoa importante? Seus pais? Seus irmãos? Seus amigos? Seu namorado, sua namorada? O que nós estamos fazendo, meu Deus? Nós esperamos as pessoas morrerem para levarmos flores. Nós esperamos algum acidente grave acontecer antes de nos preocuparmos com o nosso próximo. Nós gastamos nossos dias no Instagram, Facebook e Twitter, e deixamos de ser um ombro amigo. Tanta gente sofrendo, chorando e precisando apenas de um abraço e de alguém disposto a escutar… será que, no fim das contas, nós estamos nesse mundo apenas perdendo tempo e correndo atrás do vento?
Chega. Pra mim, chega. O ano vai mudar e eu vou junto. As flores vão chegar para as pessoas que ainda vivem. Os beijos e os abraços vão ser dados sem aviso e sem momento especial. Os “eu te amo” serão distribuídos como se eu fosse um panfleteiro ambulante da Avenida Paulista, porque eles não podem ficar escondidos. E eu vou fazer de tudo ao meu alcance para que as coisas que eu quero deem certo e as pessoas ao meu redor sejam felizes, porque essa é a missão. O propósito do ser humano aqui na Terra sempre foi esse: amar. Incondicionalmente.
Como disse Madame de Stael, famosa poeta francesa: “O remorso é a única dor da alma, que nem a reflexão nem o tempo atenuam.” Então não perca tempo.
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