Já Vou

Já percebeu como você não dá atenção para eles?

Já notou como eles chegam do trabalho e você não corre mais para dar aquele abraço apertado de boas-vindas? Ou para aqueles que ficam em casa, quando você chega, eles perguntam como foi o seu dia e a resposta é sempre a mesma, automática. No fim das contas, tudo o que você quer é se livrar deles, ir para o seu quarto, mexer no seu celular, tomar o seu banho em paz, assistir à sua série favorita, ouvir a sua música no fone de ouvido e não conversar com eles. Não é isso?

Eu sei, eu sei.

Você está cansado, certo?

Calma, eu sei.

Eles estão enchendo o saco, né? Ficam fazendo perguntas sem parar. Você sente que eles até mesmo te sufocam às vezes. Eu entendo. Eu sei como é.

Provavelmente todos nós sentimos a mesma coisa.

Quando você está na sala vendo o seu programa favorito é bem o momento que um deles escolhe para te contar sobre como a sua tia está tendo um problema. Ou sobre como um deles reencontrou alguém do passado naquela tarde. Ou até mesmo vão te perguntar se você não vai jantar. E a sua reação deve ser bem aquela de praxe: “já vou, deixa eu terminar de ver isso daqui”.

Mas tem coisas muito piores do que isso, não é mesmo?

E quando eles entram no seu quarto sem bater na porta?

E quando eles insistem que você precisa arrumar suas coisas mesmo que você ache que tudo já está arrumado?

E quando um deles arruma seu quarto e as coisas somem?

E quando eles insistem que querem assistir GloboNews na sala em vez de BBB?

Eu sei, tem mais mil e uma coisas que eles fazem que te enlouquecem. Que te deixam bravo. Que te fazem pensar que morar sozinho seria, sem sombra de dúvidas, a melhor opção. Que te fazem ir para o psicólogo e falar cada mínimo defeito de cada um deles.

Mas e se você se esquecer das brigas por apenas um instante?

Eu sei, é difícil. Mas tente.

Deixe as discussões, as noites de raiva, os xingamentos mentais e o ranço de lado. E, por um momento, pense em todas as coisas boas.

Pense em como eles são os primeiros a quererem saber como foi o seu dia quando você chega cansado do trabalho ou da faculdade.

Pense em como eles são os melhores em fazer um cafuné, enquanto vocês assistem a um filme juntos.

Pense em como eles topam assistir aos filmes mais bizarros e chatos, ainda que cochilem no meio, só pra aproveitar a sua companhia.

Pense em como eles cuidaram de você e te amaram quando você era apenas um bebê indefeso.

Um bebê que ainda não saía pra beber ou ficava até tarde em alguma festinha.

Um bebê que ainda não podia responder de volta.

Um bebê que só tinha amor pra dar.

Pense em como eles sacrificaram tudo na vida deles pra que você pudesse ter todo o resto.

Pense em como eles se doam diariamente pra tentar te fazer feliz.

Pense em como eles amam você e vão continuar te amando, não importa o que aconteça.

E se por alguma razão eles te magoarem, ame eles de volta com toda a sua força. Porque você não sabe quando vai ser a última vez que você terá a oportunidade de abraçá-los bem apertado. Ou dizer que ama os dois.

Às vezes você fica tão perdido na sua rotina, na sua quarentena, que você esquece que eles estão aí. E, do mesmo jeito que você tem dias ruins, eles também têm. Do mesmo jeito que você tem seus defeitos, eles também têm. Do mesmo jeito que as palavras te magoam, elas magoam eles também.

Já dizia Renato Russo: você culpa seus pais por tudo. Isso é um absurdo. Eles são crianças como você.

Então aproveite.

Corra.

Dê um abraço neles. Perdoe-os por não entenderem tudo o que você sente.

Diga que ama cada um deles.

E aceite o colo que eles oferecem. Porque não dura pra sempre.

Não espere chegar o dia em que você não terá mais tempo e vai querer correr para lhes abraçar, para dizer que os ama, para simplesmente rir daquelas piadas estúpidas. E as fotos serão a única forma de recuperar o tempo perdido.

Então aproveite o agora. Esqueça o remorso. Esqueça as diferenças que vocês têm. E simplesmente ame. Porque amar é a melhor coisa que nós fazemos.