Amor: Um Fluxo Infinito e Constante
- Mateus Santos
- 4 de abr. de 2021
- 4 min de leitura

Temos vivido tempos assustadores.
A verdade é que o mundo sempre teve o seu lado ruim. As redes sociais ajudam — e muito — a trazer à tona muito do que acontece em todos os cantos da Terra, mas a maldade, ou melhor, a falta de bondade sempre esteve por aí. Utilizo esse termo porque, como um ser humano que se recusa a deixar de acreditar em tempos e pessoas melhores, também me recuso a acreditar em maldade por si só. Assim como a escuridão é a ausência de luz, também vejo a maldade como a simples falta de bondade.
A questão é que a bondade está muito em falta.
Nas últimas semanas, o mundo todo tem sofrido com o enclausuramento, com a distância dos amigos, com uma vida que parece parte de uma realidade distópica. Nada parece correto. Isso tem causado problemas psicológicos em todas as pessoas, algumas de forma mais escancarada e outras de um jeito mais sutil.
O que fica evidente é que pessoas precisam de pessoas.
Você pode ser um daqueles que argumenta que viver sozinho é uma delícia e provavelmente está certo. Mas, no fim do dia, você ainda precisa de companheiros para a jornada que chamamos de vida.
Além de uma pandemia mundial afetando os neurônios até dos mais sãos, o mundo tem mostrado alguns dos seus piores lados. Em uma situação como essa, quase de um cenário realmente apocalíptico, em vez de estarmos mais unidos, parece que estamos mais distantes do que nunca. Negros continuam sendo mortos pela cor de sua pele, passeatas que parecem coisas do século 19 acontecem pelas ruas do Brasil, mulheres relatam abusos que sofreram e o fascismo continua ganhando novas proporções.
Sim, esse é um texto de 2020, apesar de eu estar falando sobre fascismo.
Com todo esse amontoado de coisas, além da própria pressão de viver uma vida normal em pleno século 21, com a ansiedade a todo vapor, fica fácil de perder a perspectiva.
Fica até mesmo fácil de perder a esperança.
As pessoas ficam receosas com o futuro e todo mundo se pergunta: “quando isso vai mudar? Quando vamos finalmente viver em um mundo totalmente recheado de bondade?”
Provavelmente, a resposta certa aqui seria nunca. Porque ninguém parece acreditar que o planeta tem salvação. Bom, eu sempre me considerei um otimista e talvez você me deteste por isso e até me considere cego para a situação, mas quero lhe propor uma linha de raciocínio, ok?
Para começar: nós precisamos acreditar em um futuro melhor. Nós precisamos acreditar que vale a pena lutar por tudo isso. Por um mundo onde negros e pessoas da comunidade LGBT caminhem nas ruas sem medo de serem mortos. Por um mundo onde as mulheres podem andar por todos os lugares sem medo de algum abusador. Por um mundo onde nós realmente possamos reconhecer a bondade em cada um. E talvez isso seja, sim, utópico demais. Mas qual é o sentido de tudo se não for para vivermos cada dia dessa curta vida tentando fazer desse mundo um pouco melhor?
Não estou aqui propondo uma solução de redação ao estilo ENEM, mas queria lhe deixar uma reflexão. Richard Rohr, um padre franciscano, tem uma ideia de amor que cabe muito bem aqui: “é tão simples que é difícil explicar em palavras, mas nós todos sabemos quando vemos. No fim das contas, não existe um jeito indígena, hindu, budista, judaico, islâmico ou cristão de amar. Não existe um jeito gay ou hétero de ser fiel, ou um jeito branco ou negro de ter esperança. Todos nós conhecemos uma corrente positiva quando vemos. (…) todo o resto é mero rótulo”.
Ou seja, amor é uma linguagem única. Não importa a sua língua, a sua religião, o time que você torce ou o quanto você negue isso dentro de você. E mais uma vez uso Richard Rohr como base: “amor flui naturalmente para baixo, ao redor de cada obstáculo, como água. Amor e água buscam não o lugar mais alto, mas sempre o lugar mais baixo”. Você pode tentar obstruir o caminho, mas a água vai acabar passando. E o amor também.
O que eu quero dizer com tudo isso é que existe bondade em todos e qualquer ser humano sabe reconhecer isso, principalmente por meio do amor. O que eu vou dizer agora vai causar certo estardalhaço, mas não deveria: você não pode defender a vida de alguém e pedir pela morte de outra pessoa. Nem mesmo se ela for uma fascista. Digo isso porque tem sido comum as pessoas pedirem “fogo nos fascistas”.
No fim das contas, ódio só gera mais ódio. Violência só gera mais violência. E o ciclo continua. Em casos assim, o carma, quer você acredite nesse tipo de coisa ou não, nos ensina uma lição valiosa: você atrai aquilo que você anseia. Não de uma forma mística, mas de uma forma bastante prática, porque toda ação tem uma reação. O próprio Martin Luther King Jr., líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, falou sobre isso: “A escuridão não pode expulsar a escuridão; apenas a luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio; só o amor pode fazer isso”.
Acredite, eu sei que é difícil ver com olhos bondosos essas pessoas por trás dessas atitudes más. Não estou absolvendo ninguém. Consequências são reais e cabe a cada um dos responsáveis pagar pelos seus atos. Mas que façamos isso em amor. Mais uma vez abusando de outro ensinamento que Martin Luther King Jr nos deixou: “O amor é a única força capaz de transformar um inimigo em amigo”.
Peço desculpas por soar piegas, mas a verdade é que a única forma de realmente impregnar a bondade ao redor do mundo e trazer uma mudança real é vivendo em amor. É por isso que a ideia espiritual de Graça incomoda tanta gente. Soa como um pleonasmo, mas é porque ela é de graça. Não existe mérito, não existe motivo. Existe apenas amor. Um fluxo infinito e constante. E cabe a nós redirecionar isso para tudo aquilo que vive ao nosso redor. Porque o propósito sempre foi esse: passar pelo mundo e fazê-lo um lugar melhor. Sempre em amor. Amando do primeiro ao último dia.
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