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The Last of Us 2 — Aparência Não é Tudo

  • Foto do escritor: Mateus Santos
    Mateus Santos
  • 5 de abr. de 2021
  • 6 min de leitura


The Last of Us: Parte II já está entre nós há alguns dias e é, sem dúvida alguma, um dos jogos mais esperados destes últimos anos. O primeiro jogo angariou uma leva muito grande de fãs apaixonados e que abraçaram completamente a ideia que a produtora Naughty Dog tentava passar.


A mensagem do game anterior era muito maior e mais importante do que apenas pessoas sobrevivendo em um mundo apocalíptico, dominado por criaturas viscerais e por seres humanos ainda mais cruéis. Muito mais do que uma jornada de Joel levando Ellie para os Vagalumes, um grupo que buscava a cura pela humanidade, The Last of Us se tratava de humanidade e amor. Mostrava de uma forma simples e muito sutil como o amor salva as pessoas. Claro que isso recai na subjetividade de cada jogador, mas, pra mim, sempre foi um jogo que mostrava o protagonista Joel desacreditado com o mundo, mas que volta a enxergar esperança graças a essa menina, que se torna sua filha. O objetivo do jogo, a gameplay e toda a experiência é adjacente ao principal: Joel e Ellie e a beleza da evolução do relacionamento deles. As tensões, os problemas, as cenas de luta e os personagens coadjuvantes servem apenas como ingredientes extras que ajudam The Last of Us a ser reconhecido como uma obra-prima. E não só dentro do mundo dos games, mas como uma história que ultrapassa mídias e plataformas. O primeiro jogo é isso: uma lição de amor, transmitida por meio de uma história linda, humanista e bem escrita.


E a continuação é exatamente o oposto.


Considerando todos os motivos acima que fizeram do primeiro jogo algo tão memorável, era de se esperar que a sequência tão aguardada seguisse os mesmos passos. Isso não acontece.


A história de The Last of Us: Parte II se passa alguns anos depois do anterior, mas não esquece nada daquele final polêmico, em que Joel opta por salvar a vida de Ellie e matar os Vagalumes restantes, já que ela precisaria morrer para que uma cura fosse criada. Logo no prólogo do jogo, vemos um pouco da relação dos dois, de forma bem rápida, e, em seguida, uma tragédia: Joel é assassinado de forma cruel.


Talvez o primeiro problema do jogo more aqui: na forma como os produtores optaram por descartar um personagem tão rico e complexo nas primeiras duas horas. Mas não vou entrar nesse mérito. Respeito a decisão dos escritores e, de certa forma, acho que é um movimento ousado. Também não preciso comentar como todo o contexto de sua morte é patético: cheio de coincidências fracas, a serviço de um roteiro mais frágil ainda. Joel age como um novato e toda a situação é extremamente esquisita. Pra resumir: mal escrita.

Mas seguindo: a grande questão por trás de tudo isso mesmo é como o jogo avança a partir disso. Controlamos Ellie, agora mais velha, em uma jornada de vingança atrás de Abby, a assassina de Joel. Demorei cerca de 24 horas para terminar o game e, por aproximadamente 15 horas, jogamos com uma Ellie sanguinária, que mata sem arrependimento homens, mulheres, cachorros e tudo o que passa pela sua frente. Sempre em busca de cumprir seu objetivo: vingar a morte de Joel. Mesmo quando ela descobre a motivação plausível de Abby, ela deixa claro que ainda não mudou de opinião (nem eu).


Nesta sequência, a Naughty Dog tenta, de uma forma péssima, fazer com que você entenda que tudo na vida é uma questão de perspectiva. Não existe bem e mal. Aquela coisa de que cada um é o herói da própria história. Como eles fazem isso? Te forçando a controlar a assassina do protagonista do primeiro game por cerca de 10 horas. Sim, você joga com Abby, conhece seu núcleo de amigos, suas paixões, seus desejos e suas motivações.



Eu entendo os argumentos de que isso deveria ser uma forma de o jogador simpatizar com a personagem e criar vínculos com ela. O problema é que talvez essa narrativa não encaixe com um jogo. Digo isso porque, em jogos, a história deve ser, sim, um dos principais nortes, mas ela pode se atrapalhar se ficar acima de todo o resto, considerando que o gameplay (os momentos em que você joga, de fato) é uma das coisas que mais prende as pessoas de frente à TV. Pensando nisso, imagine ser obrigado a jogar com essa personagem que não é muito cativante por 10 horas e ser forçado a tomar ações contra personagens que você ama.

Claro que isso só vai fazer sentido pra quem jogou o primeiro game. Mas tente ver o meu lado: Joel matou várias pessoas antes disso. Se eu fosse jogar com o filho de cada um deles, eu também veria o Joel como um vilão. Isso só não é divertido! Joel sobrevivia e pronto. Tudo o que ele faz, pelo menos no primeiro jogo, é tentando sobreviver e salvar a Ellie. Tentar, de alguma forma, descaracterizar isso é fora do comum.


Como se não fosse o suficiente, o jogo não expande nada que o primeiro traz. Não vejo nem mesmo sentido no título, porque não parece ser uma segunda parte. A escolha dos produtores foi de tentar inovar no roteiro, com novos grupos a serem enfrentados, novas localidades, novos personagens e isso até poderia ter dado certo. Talvez a execução tenha sido ruim. E isso é evidente, porque, em alguns momentos, é possível ver o potencial que o jogo tinha quando se trata da história. Há relances do que The Last of Us 2 poderia ter sido, como poderia expandir a narrativa do primeiro e ainda assim ter respeitado a mitologia estabelecida. Esse é um ponto importante, porque parece que personagens antigos tomam atitudes incabíveis nessa continuação. Assassinos experientes se comportam como novatos estúpidos. E, para piorar, o roteiro é recheado de coincidências esquisitas. Como dito antes, poucas vezes é possível ver todo o brilhantismo que o primeiro jogo tinha. E ele mora, especialmente, na relação de Joel e Ellie (que fica apenas nos flashbacks).


Pra ser justo, no meio desse mar confuso, existem muitas coisas boas a serem tiradas desse jogo. Pra começar, os gráficos são os melhores que já vi em um videogame. Sério, é de tirar o fôlego. A relação de Ellie e Dina é incrível e a forma como se desenvolve é sutil e encaixa bem. A trilha sonora é esplêndida, assim como no primeiro, e mais uma vez é assinada por Gustavo Santaolalla, um gênio! Senti falta de músicas marcantes, como a música tema do jogo anterior, mas, em compensação, as trilhas nos momentos de ação estão muito melhores. Mais uma coisa sobre a gameplay: lembra muito uma versão melhorada de Resident Evil. Consegue incrementar elementos de terror no meio da jogatina, inimigos desafiadores e cenários macabros.


Jogar com a Ellie foi super divertido. Mas não é possível dizer o mesmo em relação à gameplay com Abby. É realmente uma tortura ser obrigado a controlar a assassina de Joel em uma tentativa bizarra de mostrar o outro lado da história e "vilanizar" o protagonista do primeiro jogo. Deixa apenas uma sensação amarga e parece uma desconstrução desnecessária do personagem. A motivação dela é compreensível, sim. Mas isso não tira o peso da sua ação e o desejo de vingança continua o mesmo.


O final do jogo é ainda pior, considerando que essa vingança não se concretiza, o que tira totalmente o peso do jogo. Ou seja, 24 horas de gameplay inúteis. Toda a jornada parece fútil e, no fim, só sobra um sentimento de que você não conseguiu cumprir aquilo que era necessário.



The Last of Us: Parte 2 é uma jornada decepcionante. Apesar das 15 primeiras horas serem uma montanha-russa divertida (pelo menos quando se trata do gameplay), o jogo se perde na reta final e se parece mais com uma tortura mental excruciante, que te obriga a ouvir o outro lado de uma história pouco atrativa. É cansativo perdurar pelas partes de Abby e na forma como o jogo tenta humanizá-la, especialmente depois do começo chocante. No fim das contas, o problema não é ter essa noção de perspectiva, mas tentar entender o porquê disso. Toda história tem dois lados, o próprio Joel fala isso no primeiro jogo, quando Ellie o questiona se ele não se sente mal pelas pessoas que mata: "todo mundo tem família" é a resposta dele. Essa sequência é como se você tivesse que jogar com o filhinho de um dos caçadores que ele e Ellie mataram no primeiro jogo. Como dito mais cedo: não dá pra comprar isso. Histórias são assim: nós seguimos uma narrativa, com protagonistas e seus pontos de vista. E posso dar dois exemplos claros de como isso pode funcionar sem que você desconstrua personagens ou desperdice suas histórias: os prequels de Star Wars fazem isso com Darth Vader, humanizando o personagem e, mais recentemente, Cobra Kai também fez, mostrando o outro lado da história de Karatê Kid. Não é a ideia de The Last of Us 2 que é ruim, mas a execução.


Recheado de furos no roteiro, falta brilhantismo no segundo jogo. Em uma tentativa de inovar, a Naughty Dog conseguiu expandir o universo e deixar todo o escopo do game maior, mas perdeu a sutileza. No jogo anterior, e aqui cito Pequeno Príncipe, era evidente como o essencial é invisível aos olhos. Existia algo sutil e lindo na relação dos personagens. Na Parte II, isso se perde por completo e, no lugar, ficamos com novos personagens sem carisma. É um jogo que vai entrar para a história, permeado de opiniões divergentes, mas que, pra mim, sempre vai existir uma sombra que reflete: uau, poderia ter sido tão melhor.


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©2021 por Mateus L. P. Santos

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