top of page

Os Humanos: Uma Instigante Reflexão Sobre Humanidade e Amor

  • Foto do escritor: Mateus Santos
    Mateus Santos
  • 5 de abr. de 2021
  • 4 min de leitura


"Para experimentar a beleza na Terra você precisava experimentar dor e conhecer a mortalidade. É por isso que tanto da beleza neste planeta tem a ver com a passagem do tempo e a Terra girando. O que pode explicar por que olhar para uma beleza tão natural trazia uma sensação de tristeza e um desejo oculto por um vida não vivida"


Esta frase foi uma das que me conquistou lendo esse livro, porque ela define muito bem vários pontos comuns para o ser humano. Não é apenas um depoimento sobre a beleza infindável desse mundo, mas também traz a ambiguidade que reside nessa jornada: um paradoxo infindável que envolve tristeza, desejo, contemplação e felicidade. Nenhuma dessas coisas é permanente, assim como a vida.


Matt Haig, o autor de Os Humanos, tem essa capacidade, que, em muitos momentos, parece até mesmo um movimento involuntário. Não é à toa que esse livro é um tesouro de frases a serem sublinhadas.


A história acompanha Andrew Martin. Bem, na verdade, um Alienígena sem nome que toma o corpo de Andrew Martin, depois que este descobre a resposta para uma fórmula matemática que permitiria aos humanos terem acesso a tecnologias muito à frente do seu tempo. A partir disso, este alien precisa se adaptar aos costumes da humanidade, entender como as coisas funcionam e como se relacionar.


Todo o contexto de ficção científica que a história tem logo fica de lado, deixado de segundo plano. Os Humanos não é um livro sobre alienígenas e intrigas espaciais - por mais que a história enverede nestas vias em alguns momentos e deixe a trama ainda mais interessante. Não, este é um livro sobre ser humano. A premissa é simples assim. Eu iria além e diria que é um olhar cuidadoso para todas as simplicidades da vida humana.


“Você não deveria ter nascido. Sua existência é o mais próximo que existe de impossível. Descartar o impossível é descartar a si mesmo”


Conforme a trama avança e Andrew Martin aprende mais e mais sobre como se comportar - desde coisas simples como saber entender ironia, compreender quando uma pessoa ri mesmo quando quer chorar e entender o conceito de mentira -, o olhar dele, em relação à humanidade, fica mais interessante.


De início, ele sente nojo. É uma raça nojenta, falsa, autodestrutiva, preconceituosa, intolerante e, principalmente, violenta. São essas as informações que ele recebe dos seus superiores e é muito bacana acompanhar essa transformação de percepção. É como se Andrew fosse o retrato de um humano real que vê o que existe de pior na humanidade e, paulatinamente, começa a dar atenção ao que existe de melhor.


E acho que foi isso que me conquistou.


Fui pesquisar um pouco sobre Matt Haig depois de ler o livro. Sempre faço isso quando um livro me impacta profundamente. Tento de alguma forma me conectar com o autor, entender suas origens e inspirações. E fiquei bastante surpreso quando descobri que ele vem de um lugar muito obscuro.


Durante a adolescência, enfrentou várias formas de bullying e, depois, em seus 20 e poucos anos, encarou uma luta bastante complicada pela própria vida, convivendo com pensamentos suicidas.


E fiquei completamente feliz ao enxergar e ver de perto como este homem conseguiu vencer tudo isso, conseguiu superar todas as adversidades que a vida colocou em seu caminho, e encontrou um refúgio no melhor dos refúgios: na arte. Ele mesmo menciona o poder da arte no livro: "Um paradoxo: as coisas que você não precisa para viver — livros, arte, cinema, vinho e assim por diante — são as coisas que você precisa para viver".


Um dos pontos mais legais do livro está na capacidade do autor de transparecer, ao longo de toda a história, como a arte muda nossas percepções. Eu, como um autor, me identifico muito com Haig no sentido de que, por mais difícil que as coisas estejam, existe um refúgio seguro e confortável dentro das páginas. Livros são os companheiros mais fiéis do homem solitário.


Indo mais além, Matt Haig consegue neutralizar toda negatividade que seus anos difíceis poderiam sobrepor nele e, em vez disso, mostra o melhor lado da sua alma. A jornada de Andrew Martin, por mais que ele seja um alienígena, é a jornada mais humana que existe. Consiste basicamente em um homem, que não entende muito bem seu caminho e, na maior parte do tempo, se sente perdido. Um homem que sai em busca de significado e, durante esta trajetória, encontra a beleza simples do Planeta Terra, o paradoxo da humanidade, a misericórdia e o carinho da nossa raça e, por fim, o mais importante: amor.


“E eu soube ali mesmo o objetivo do amor. O objetivo do amor era para ajudar a sobreviver. O objetivo também era esquecer sentido. Parar de procurar e começar a viver”


Nenhum humano sabe muito bem como ser humano. Ninguém conhece a fórmula mágica para viver perfeitamente, para evitar os erros, o sofrimento, a dor e a mágoa. Não existe tal coisa, porque tudo faz parte do processo de aprendizagem. A jornada requer todas essas coisas.


Os Humanos é uma lição clara sobre humanidade. Sobre saber olhar para si mesmo e enxergar potencial. Sobre olhar para o próximo e enxergar bondade, mesmo por trás das suas maldades. É um exercício de renovação e mudança de perspectiva. É um respiro de esperança aos corações mais pessimistas. É sobre aceitar ao outro, mesmo que ele pareça um alienígena para você.


Mas, mais do que isso, é um manual sutil sobre como viver uma vida tranquila. Digo tranquila porque a vida nunca vai ser fácil. Mas ela fica um pouco mais fácil com amor. Afinal, ser humano é exatamente isso. É ter a capacidade de amar, de se relacionar, de enxergar semelhanças no outro, mesmo que no meio de tantas diferenças. É aproveitar os pequenos momentos, os instantes de simplicidade. É curtir o pôr do sol com quem você ama, é dar risada até a barriga doer, é sentir tanto amor dentro do peito que você sente que está perto de explodir ou algo parecido.


"Tem coisas erradas com o seu mundo, mas o excesso de amor não é uma delas"


O sentido da vida não mora em uma resposta secreta ou em um caminho escondido. Matt Haig fala exatamente isso. Chega uma hora em que precisamos parar de procurar e começar a viver. E o sentido está justamente nisso. Viver. Mas sempre viver em amor.

コメント


Post: Blog2 Post
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
  • LinkedIn

©2021 por Mateus L. P. Santos

bottom of page