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Me Chame Pelo Seu Nome: Uma Dolorosa História de Amor

  • Foto do escritor: Mateus Santos
    Mateus Santos
  • 5 de abr. de 2021
  • 4 min de leitura


Existe uma beleza secreta que mora em histórias tristes. Talvez seja por isso que sejamos tão apegados a filmes e livros de drama. Ou talvez seja pelo fato de que todos nós vivemos algum momento de tristeza muito forte na nossa vida e, no fim das contas, a sensação de se identificar com um personagem, de perceber que não estamos sozinhos, nos reconforta.

Acho que foi por isso que me apaixonei pela história de Elio e Oliver.


Me Chame Pelo Seu Nome é escrito por André Aciman e relata os detalhes de um amor de verão entre Elio e Oliver. Elio é apenas um garoto de 17 anos que vive no norte da Itália. Sua família tem o costume de receber em casa jovens escritores e assistentes para ajudar seu pai. Todo ano, um garoto ou garota visitam a casa de veraneio, trabalhando para o pai de Elio e aproveitando a beleza do calor do norte italiano. Desta vez, o convidado é Oliver, um homem de 24 anos que, de imediato, intriga Elio e, paulatinamente, acende no coração dele uma paixão inédita e irrefreável.


Para mim, a mágica de qualquer história reside na capacidade que o autor tem de criar identificação entre os personagens e os pontos de vista deles com a pessoa que está lendo. Como escritor, meu maior desafio é sempre este: criar um laço, uma ligação, entre o leitor e o protagonista. Além de um desafio, é também a relação que mais me interessa sempre. O que pode ser mais belo do que encontrar em um personagem literário um conforto e empatia que você jamais encontrou antes? Como eu mencionei há pouco, o autor é bem-sucedido (pelo menos comigo) quando ele consegue exprimir na história tudo aquilo que é comum para mim.


E André Aciman faz isso muito bem.


Este talvez seja o livro mais belo, genuíno e impactante que já li em toda minha vida. Muito mais do que uma história de amor entre dois rapazes, Me Chame Pelo Seu Nome é sobre sentimentos humanos universais. Paixão, amor, sofrimento, perda, distância e dor. É sobre tudo aquilo que um jovem apaixonado, tentando encontrar seu caminho, experimenta.

É sobre ser humano — no ápice de um sentimento e no esfriar do mesmo. É um relato de como sentimentos surgem repentinamente e como pode ser difícil se livrar deles. A história de Elio e Oliver é linda, porque ela é verdadeira. Mais do que um atestamento a favor da comunidade LGBTQ+, Me Chame Pelo Seu Nome é uma história de amor. O fato de ter como protagonistas dois homens não influencia em nada e talvez a beleza da trama esteja nisso. Eu, como heterossexual, não tenho lugar de fala para explorar certos conceitos por aqui. Mas foi interessante ver um relacionamento entre dois homens de forma normalizada. A questão é que, dentro deste livro, não importa muito o gênero e a identidade sexual dos protagonistas. O que importa é o sentimento, a pureza e a beleza de um amor simples, genuíno e duradouro.


Nunca li uma história que fosse tão vívida, intensa e cativante como essa. André Aciman tem a capacidade inigualável de fazer com que entremos por completo na mente de Elio. Tudo que ele pensa, teme, anseia, deseja e hesita, tudo isso é passível de identificação. Como um escritor, acho isso admirável e uma habilidade subestimada. Como leitor, me sinto grato por poder experienciar este livro ao máximo, sentindo tudo junto com Elio. E não é difícil se identificar com ele. Como eu disse, Me Chame Pelo Seu Nome traz sentimentos universais: o surgimento de um amor, a tentativa de manter uma chama de paixão acesa, um coração partido e as formas (falhas) de como esquecer uma pessoa. Aciman consegue permear o nosso interior com os mesmos sentimentos de Elio de forma quase sobrenatural. Ao final da leitura, fiquei em lágrimas e reli o último parágrafo uma, duas, três, quatro, cinco vezes. E desejei que o amor dos protagonistas se concretizasse — como se fosse uma crônica, uma história real que estou escutando de um conhecido.

Me apeguei tanto a Elio e Oliver que encontrei sérias dificuldades de começar uma nova história. Nunca antes me deparei com uma ressaca literária tão impactante e tão forte. Mais impressionante ainda foi a forma como misturei meus pensamentos com os de Elio, ao ponto de eu começar a me diminuir da mesma forma que o protagonista fazia, em virtude da linha tênue de identificação que é criada.


No fim das contas, a ressaca só pôde ser vencida quando me permiti - assim como Elio - sentir. Me Chame Pelo Seu Nome me marcou de um jeito como nenhum outro livro fez e deixei a história, sentindo saudade dos meus amigos Elio e Oliver. Só consegui ler outra coisa depois que me permiti sentir essa saudade. Como diz o pai de Elio: "A abstinência pode ser uma coisa terrível quando não nos deixa dormir à noite, e ver que as pessoas nos esqueceram antes do que gostaríamos de ser esquecidos não é uma sensação melhor. Mas não sentir nada para não sentir alguma coisa… que desperdício!"


Extremamente belo e completamente doloroso, Me Chame Pelo Seu Nome é uma jornada única. É uma história linda. Mas dói muito. Dói tanto quanto se fosse com você. Mas te deixa tão apaixonado que talvez você acabe chegando na sua parceira ou no seu parceiro querendo chamá-los pelo seu nome. Só de brincadeira. E também te faz lembrar que ter o coração partido é uma droga. Realmente é. Mas a dor de um coração partido jamais sobressai a sensação de um amor realizado. Então, de alguma forma, há esperança até mesmo na dor.

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©2021 por Mateus L. P. Santos

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